domingo, 13 de setembro de 2015

Carioca

Não, não faz sentido. Não é costume da vida fazer sentido.

Eu tenho um lenço cinza que comprei mais com o intuito de ficar mais bonita com o que te esquentar o pescoço. Ele, por ser de tecido fino, absorve mais o cheiro de cigarro que minhas outras roupas e, por ser acessório é lavado menos que uma camiseta.
O cheiro que fica nele me lembra você. Vago, porém até que tem sentido (se algo, de fato, fizesse nesta história) já que você costumava fumar bastante e cheirar a cigarro na maior parte do tempo.
No meio dos dias frios que fazem em terras paulistanas, eu acabo me flagrando cheirando ele disfarçadamente em meio a um grupo de pessoas animadas ou em uma casa de show enquanto sigo minha - amada- rotina.

Eu decidi te apagar, quase que por acaso.

Ainda que a frase remeta à um filme que nem sequer pertence ao relacionamento em questão, como eu já havia dito à ele... O filme diz muito sobre mim. E, por isso mesmo que foi uma pena você não ter o assistido, mas entendo seus motivos.
Um dia, no meio da confusão de sentimentos que sou e sinto especialmente por você, eu te chamei e sem resposta...Disse adeus como forma de  fugir de algo que, de certa maneira, já me aconteceu antes.
Errado correr das desgraças do percurso, ou quem sabe, inteligente. Eu já fui quem pagou pra ver, quem ficou até o final e sorriu até o último. Mas, eu sei bem que essa história não acaba bem pra alguém e na certa, seria pro meu lado que a corda iria arrebentar.

Eu ainda olho casais e inconscientemente peço aos céus alguém que me olhe do jeito que os rapazes olham pras mocinhos no metrô. Mesmo sabendo que não preciso disso, meu coração pede por um afago que, estranhamente, parece não receber há anos.
Olhei pro lado duas vezes, a qual uma claramente deu errado pro meu lado. Na segunda, como uma forma de blindagem eu já sabia que não passaria de sorrisos trocados e comentários maldosos para minhas amigas.
Meu coração é de pedra vez por outra.

Quem hoje -talvez- leia esse texto, nem de perto é aquele por quem eu escrevi textos apaixonados e contei os dias. Mas, não tome como ofensa, aquele nunca existiu, meu bem.
Fruto de uma imaginação cega, desesperada por amparo e infinitamente apaixonada. A gente acredita no que quer.

Me lembro de quando lhe contei do meu gosto especial pelo som alto e luzes de balada. Você me alertou sobre problemas posteriores. Estava certo.
No entanto, hoje quem se derrama nas baladas não sou eu. E, não que eu esteja enciumada.
Já fiz tanta coisa babaca por aí. Já beijei tantos rapazes sob uma luz que, com certeza, não revelava a verdadeira cara que eles tinham na vida real.
Mas, o choque de realidade que bate a porta é estranho. Quem sabe até mais do que ouvir que teu ídolo vai ter um bebê.

Que, aliás, diante da notícia me botei no lugar. Pensei em como seria se a criança fosse minha e sorri por não ser, mas lembrei que se acontecesse, você, doente que é, disse que ficaria contente. Sem se dar conta da dimensão disso, quase fez com que eu me convencesse que tamanho absurdo podia ser aceitável e passou na memória o quanto eu desejei morar no mesmo teto que você.

Sonho que nunca foi meu. Nunca foi meu, porque o meu é no mundo e não no Rio. Mas, mais que isso, nunca foi meu porque já havia sido de outra antes.

A confusão de amores e relacionamentos que fizemos nunca havia sido vivida por mim, desta forma intensa, antes.
Algo que eu poderia, quem sabe, dispensar.

Quando passa no jornal notícias da tua cidade, quando a reportagem conta sobre algo daí... Eu penso como você tá longe e perto.

As fotos não dizem mais. Chorar perdeu o sentido há algum tempo. Já fazem dois meses. E, nem sequer assimilei como não voltei pela gata. Tantas músicas que sei de cor, tão fascinada pelo universo dos sons e tão louca pra fazer parte disso... Fã e entusiasta de mão cheia de tudo que vem daqui, a favor da nacionalização geral do rock e cheia de marra de sabichona quando vêm falar sobre livros do tema. Mas, ainda não encontrei uma música que falasse sobre nós como eu gostaria.

A busca constante por algo que acalme me traz certa transtorno em algumas noites. E, a ideia de que você, sempre com seu discurso barato sobre amor, vive de uma forma sem culpa nas mesmas noites, me assombra.
Eu devia ter te feito carinho ao inves de ir deitar no sofá da sala com cara de brava.
Eu não sei se eu gostaria um pouco mais de mim se eu não tivesse medo da areia da praia.

Em busca de uma independência de tudo e qualquer coisa, eu fujo de tudo que parece que leva um pedaço de alguma forma.
Eu devia ter feito comida algum dia enquanto você esperava no sofá.
Eu devia ter feito outra carta.
Eu devia ter te ligado pra dar boa noite.
Eu devia ter sido mais legal na tpm.
Desculpa se eu não abri tantas exceções assim pelo amor.

A foto dos pés na areia não me lembram dos dias que a gente gritava e batia porta.
Me lembra que eu viajava todas as sextas-feiras, eram seis horas, doze no final de semana todo. Quando eu chegava você já tinha comprado o que eu tinha escolhido pra comer. Nos feriados, você pegava minha mão e ia me mostrar o que havia de bom na cidade. Não, não gostava tanto assim de praias. Mas, ver filmes o dia inteiro, comer besteiras e ficar com fome no meio da madrugada porque a gente não pensou nisso quando estávamos no mercado.
Entre tapas sem nenhuma sutileza e declarações de amor que terminavam em baixo do chuveiro.


Que a lembrança mantenha viva o lado bom do Rio de Janeiro e do cheiro, sorriso e sotaque.

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