segunda-feira, 30 de março de 2015

Você não precisa carregar a culpa sozinha, você não ser precisa mudar a cor do seu cabelo, a sua roupa ou quem você é.
Você não precisa viver de passado, não precisa viver com lágrimas nos olhos ou dores na alma.
Não precisa se mudar, não precisa disso.
Você pode se levantar, se ver de cima como tantas outras ocasiões, você pode ser o que você é. Você pode espalhar-se pelo céu, pelo mundo. Você pode enxugar suas lágrimas e retocar sua maquiagem, você pode ser o que você sempre foi.
Você pode acalmar seu coração, você pode parar de chorar, pode ver as coisas pelo melhor angulo.
Você já pode encontrar quem te ouça e te ame, pode abandonar o que te faz mal... Deixa pelo caminho.
Você pode pegar os pedaços do seu coração no chão e remendar, você já pode sorrir sem o peso nas costas.
Você pode voltar ao normal, já pode amar quem você é, já pode correr pela rua num dia de chuva sem chorar, já pode parar de esperar o pior, você já pode se olhar no espelho e não se odiar.
Você já pode comprar uma bebida e sentar sozinha por opção em alguma calçada enquanto fuma um cigarro, você já pode sorrir por estar acompanhada de si mesma.
Você pode limpar as lágrimas pretas misturadas com o seu rímel das maças do seu rosto, já pode tomar um banho e deixar tudo isso ir pelo ralo. Já pode sossegar seu coração, acalmar essa dor, entender a vida fica pra depois.
Você já pode amar a tudo o que tem, já pode encher a vida de cor com sorriso, já pode voltar pro mundo.
Ninguém olha pra trás por você, ninguém voltou pra te buscar e nem vai. Você não tem ninguém, mas você tem tudo o que precisa.
Você já pode voltar aos seus objetivos, já pode voltar pra sua vida, já pode parar de se desculpar ou se culpar por tudo, já pode abrir os olhos pela manhã e ver o brilho dos dias.
Você já pode enxergar o sol brilhando de novo? Você já ouve novos corações radiantes batendo pelo seu amor e pelo seu sorriso? Já pode jogar tudo que ficou pra trás no primeiro lixo que achar no caminho, já pode desapegar, você já pode esquecer e jogar fora como fizeram com você.
Respira e lembra do quanto você pode agora. Você já pode sentir frio pelo vento e não pela solidão, você já pode aceitar as coisas.
Você já pode crescer, você já pode parar de ouvir aquelas músicas, você já pode jogar fora  as lembranças de coisas perdidas ou de dias bons que não fazem mais sentido, você já pode parar de querer ser um texto, de sonhar com as coisas tão longe. Todo mundo vai embora, mas você fica, você precisa se segurar.
Você não precisa fazer mais nada do que não quer, não precisa ligar pro que nunca ligou, você não precisa de nada, deixa o peso pra trás.


Sobreviver e Acreditar - 18 de dezembro de 2013 às 03:10.

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algumas coisas me incomodam num grau tão absurdo que eu não consigo entender o porque.
Sou egoista, sim, isso é claro.
livre demais, egoista e desconfiada... deve ser a explicação. Preciso ser menos transparente com as coisas, vão saber quando eu não gostar, vai estar na minha fala desde o primeiro segundo quando acontecer. Meu deus, queria ser menos complicada, talvez menos egoista já ajudaria o suficiente, ou quem sabe o que falte é deixar essa mania tonta de desconfiança de lado.
a percepção do outro é sempre diferente da nossa, sempre vou achar que quando é comigo é diferente.
ps : nunca se deve confiar 100% ( Bianca sempre tem razão e é por isso que é meu anjo da guarda a uns 10 anos).


6 de dezembro de 2013 às 04:39.


A etec não só abriu portas pra mundo da moda ou pro meu futuro dentro ou fora disso como abriu portas pra eu descobrir quem eu era de verdade.
Não há duvidas de que lá eu aprendi muito mais do que modelagem e tendencias, aprendi a conviver, respeitar, amar o que faço e ao próximo, a me calar quando não tenho o direito de reclamar e a trabalhar em grupo. Mudei conceitos, aumentei minha responsabilidade e quando cheguei lá eu era um menininho de cabelo colorido que andava todo torto e com um moletom grande pelos corredores.. É incrível como eu mudei e cresci, incrível como agora eu pareço mais velha e mulher, incrível como até sou menos torta , falo mais baixo e não uso mais as roupas de menino, é incrível como eu me descobri e descobri que pessoas me amariam exatamente pelo que eu sou.
A parte triste de tudo isso é que foi uma época intensa, eu oscilava de sorrisos a choros desesperados em minutos e todos ali compartilhavam da mesma tristeza feliz, da mesma felicidade triste. A gente precisava deixar de lado tudo o que era prioridade pra poder fazer todas aquelas coisas que nos eram propostas, eu me descobri mais forte, mais determinada e muito mais capaz. Naqueles dias em que eu sabia que precisava dormir, em que meu corpo clamava por mais 10 minutos de sono, eu levantava e ia fazer uma das coisas que eu odiava fazer mais sabia que precisava.
Mesmo no meio de tanta briga, no meio de tanta desentendimento, discordâncias incríveis onde achei que amizades se perderiam, eramos todos amigos e unidos e eu via em cada um ali que todos se ajudavam, todos sabiam como era difícil e enxergavam a capacidade do outro, incentivava, apoiava.
Obviamente os grupos existiam e foram ficando cada vez mais fechados, mas ninguém negava ajuda, poucas foram as pessoas que agiram de má fé e as que fizeram, nos ensinaram a levantar mais forte e com mais paciência.
Muitas foram as vezes em que pensei em largar tudo e achei que nada daquilo fazia sentido pra mim, muitas foram as noites que desisti de tentar e fui dormir, muitos foram os intervalos em que vi gente fazendo parte do meu trabalho pelos meus 10 minutos a mais dormindo na noite anterior. Muitos foram os sorrisos que apareceram no rosto de cada um quando viram cada trabalho pronto, muitas foram as risadas nas festinhas que aconteciam entre um módulo e outro e foi muito questionado por nós como seria a vida quando acabasse toda aquela agitação, aquela felicidade triste, aquele estresse gostoso, aquela animação preguiçosa, aquele monte de sentimento acumulado que as vezes era solto em forma de gargalhada e as vezes com lágrimas.
Acredito que os dias não estejam só vazios pra mim, antes eu pelo menos não sabia quem era e tinha algumas pessoas de mentira pra me segurar. Depois que você conhece o mundo não quer vê-lo girar na sua frente enquanto você tá com a bunda no sofá.
A etec aconteceu em um momento onde tudo aconteceu, foram muitas descobertas e ações que me fizeram uma pessoa infinitamente mais responsável e crescida, e agora... eu vivo tão sozinha. Mas a pior parte é o vazio diferente do que eu costumava sentir antes de viver tudo isso.
Não sabia que existia uma parte ruim em se descobrir, mas a parte ruim é quando você percebe que seu mundo é diferente do da maioria das pessoas, quando você não quer mais ser o que sabe que não é, quando você não consegue ser diferente do que descobriu ser e se sente num mundo diferente de todo mundo ao seu redor.



Cresci - 28 de novembro de 2013 às 15:16.

"lamenta o que você não viveu hoje, que amanhã você vai lamentar o que não viveu ontem"

Eis que os números perdidos do meu infinito ficaram no ontem e eu tava tratando de perder os do hoje pensando nos de ontem e nos de amanhã.


Hazel - 31 de outubro de 2013 às 13:07.

Hazel Grace, 

oi, é. Você não é de verdade, talvez o texto devesse ser escrito para John Green, mas eu prefiro a moça parecida com a Natalie Portman de bochechas grandes e cabelos curtos que falava sobre os tamanhos diferentes de infinitos que existem por ai.

Você nem existe, mas vamos fingir que sim. É sobre você não querer ser uma marcas como o Gus, mas ser.

Ele morreu, parece cruel, mas você gostava de quem não tinha dó sua doença, então eis minha opinião sincera: Ele morreu e foi ótimo, nenhum amor puro como o de vocês se manteria até o tal envelhecer, o seu infinito ilimitado pequeno te fez viver melhor que muito gente com um infinito gigante.

Você morreu depois da carta? Acho que sim, é o que você imaginava que tinha acontecido com a Anna, mas fico feliz se tiver morrido de fato, conseguiu ler o que Gus meio que deixou pra você sem ser pra você, leu seu elogio funebre pouco antes de morrer, teve Um Ultimo Dia Bom sendo o Seu Ultimo Dia de fato.

Ele fez uma cicatriz em você, não como uma tatuagem, não como marcas fisicas, interna, ela durou pouco já que morreu um pouco depois... Mas existe algo que ele gostaria mais de saber do que saber que também fez em mim? Estranho o infinito ilimitado pequeno de vocês ter virado o de tanta gente.

Será que alguém já pensou em mandar cartar pro John que nem faziam com o Peter, não acho que o John é um bebado solitário grosso que teve uma filha como eu. Álias, meu infinito não é pequeno, pelo menos não que eu saiba, na verdade, eu só não to morrendo e sei disso.

Desde que li a última palavras na Maldita Ultima Folha não consigo parar de chorar e pensar em milhões de coisas que não se diz ou se escreve pra ninguém.

E eu vou continuar aqui, com muito coisa pra viver.

Tô fazendo como aquele povo que ia na internet deixar as condolencias pra alguém que nem conhecia? Preciso te dizer, em outro mundo paralelo, no meu, realmente fazem isso, já cansei de ver, consigo sentir teu nojo algumas vezes, tudo tem um ar falso.

Eis minha carta como a de Augustus, meio confusa e embaralhada, mas que vai deixar cicatriz. Eis minha tentativa de dizer a você, Hazel que não existe, que gostei que você morreu e que você fez uma cicatriz em mim e que se você não estiver assim tão morta, eu é que não vou até o John perguntar... Não tenho um Desejo e nem cancer terminal, ironico... mas você ia gostar.


Com Risada Divertidas de alguém que existe para Alguém Que Não Existe e está num lugar com Algo melhor com A maisculo,


Letícia.


29 de outubro de 2013 às 02:16.


576 no fruit ninja.

BOY KILLED LIAR - 19 de outubro às 12:05













Achei uns textos antigos perdidos e tem coisa que eu nem me lembro o que era, mas estranho gravar um arquivo com a pontuação do jogo.
Fiquei encantada com a minha propria carta pra Hazel, sou mais sensivel para histórias do que pareço. Ao final, sinto que tá tudo registrado e até o que eu não me lembro, faz eu me lembrar de algo que eu não sei o que é.
Tinha muito mais, mas depois de ler a pontuação, não tive coragem de ler mais coisas como "eu impedi ela de sair com os cachorros, sou tão horrivel" e saber que isso era real e não deboche.
Eu era divertida e no fundo ainda devo ser, sempre criei muitas ideias e teorias.

Hoje o que me trouxe até aqui foi o estranho hábito de criar amizades por pessoas que eu não conheço. Alguns de vocês debocham, e quem seria o louco de levar a sério, não é?! Mas, se eu pudesse os faria entender que não é nem um tipo de brincadeira e sim mais uma das minhas teorias que tem uma sentido absurdo na minha cabeça....Mesmo eu sabendo que elas não devem fazer sentido algum.




terça-feira, 17 de março de 2015

desordenação

Passei o dia em meio aos livros, escrevi, fiz até entrevistas. Talvez essa seja uma realidade distante do que eu era a anos atrás, quem poderia imaginar que aquela menina maluca que falava pelos cotovelos, sem nenhum filtro ou senso ia acabar assim? Sou tão mais quieta e talvez não seja só culpa do meu último relacionamento.
As coisas passaram de caóticas para mais caóticas ainda, dentro e fora de mim. A bagunça que 4 anos atrás, todas aquelas confusões que eu arrumava... Ah, bem que eu queria aqueles conflitos -que na época pareciam o fim do mundo- de volta.
Eu me perdia nas minhas próprias palavras e quanto mais tentava explicar mais via os rostos com expressão de interrogação pra todo aquele meu discurso desordenado.

Desordenado - palavra que eu adotei em definitivo pra minha vida. 

Em meio a tudo que eu devo ler pra faculdade, em meio a tudo que deve e será feito, eu paro e me pergunto onde eu quero e posso\irei parar.

Tenho me orgulhado, não dos outros, mas de quem eu me tornei. Sempre gostei de mim, uma das maiores tristezas que já senti foi numa época onde desejei cegamente ser como outra pessoa. Entrei numa pira completamente desenfreada de seguir os passos de alguém que eu nem sequer tinha visto, mas sabia que tinha sido alguém legal pra muita gente...A internet nem sempre me traz benefícios.
O que eu planejei a um ano atrás, permanece, de ângulos diferentes, mas nada foi de fato abandonado, pelo menos no que me refiro a projetos pessoais e profissionais.
Sobre meus amigos, os acontecimentos dos últimos meses levaram muitos, mas hoje eu sei que foi melhor terem levado mesmo. Atualmente, não conto na mão quantos amigos eu tenho, conto em três dedos e olhe lá... Parceria em todas as alas da minha vida, reservo a vaga para um só dedo.

Transformar paixão em profissão, dar alma, coração e ver um sorriso no meu rosto mesmo depois de perceber que passei a tarde em meio a cadernos e livros. Nem eu sabia que podia ser tão empenhada em algo. Com certeza, tem mais gente orgulhosa e apostando na minha vontade e na alma que dou à isso.





terça-feira, 10 de março de 2015

Corre, vai avisar todo mundo que tá ansioso pelo fim desde o dia em que a gente se conheceu.
A exaustão levou ao fim.
Agora, até penso que devia desculpar sim, mas é que como você me ensinou eu só me lembro e aprendo o que me convém. Nesse momento, me convém pensar que você é um anjo, mesmo sabendo que você não é.

Eu tentei, tentei além do que podia e tinha. Eu tentei te encaixar em tudo, eu tenho muito- tinha muito. Mas, você não quis ser encaixada, você quis dominar, até que me levou tudo. Me levou QUASE tudo, menos a vontade de viver e ser e crescer. Eu tenho tantos planos e projetos, tanta coisa, muitos exigiam de mim muito mais que dois finais de semana por mês em SP, e quando eu me mudasse? Como elas ficariam? Mas por tanto tempo isso não importo, eu combinei a parede da sala e prometi morar com você no meio do ano, claro sob a condição de darmos um amigo pug ao Athos.

Eu não queria chorar, já chorei tanto... principalmente por você.

Fez quatro, quase cinco meses que nos falamos todos os dias e isso não parede nada perto da imensidão de 3 anos que já passei com alguém, mas acho que a gente sabe o quanto apostamos, o quanto queríamos e porque tá sendo assim. Nunca amei ganhei alguém assim, eu mudava de estado, de amigos, de roupa, de maquiagem, de vida, de profissão, de sonho, de paixão... eu mudei de tudo que eu já podia fazer.

Você viu que minha roupa era transparente e se mostrou bravo, subimos a escada de casa, você segurou o Athos pra eu passar sem me olhar na cara. Entramos e eu questionei se ficaria com a cara amarrada por isso, eu nem sabia que era assim... A briga evoluiu e em pouco tempo você entrou no quarto e disse BEM alto "Não sei se você fazia isso com os outros, mas enquanto for minha namorada não vai andar assim", eu deitada no sofá, já tinha me acostumado a chorar ali quando a gente brigava.


Eu me senti coagida muitas vezes, mas já era de meu costume se sentir assim em outros relacionamentos. A voz mais alto, o olhar autoritario... Eu ia até o quarto, até gritava, falava falava falava e falava um pouco mais, te via amolecer aos poucos, não que você me desse  razão porque isso você nunca faria. Naqueles momentos eu quase via o menino doce que conheci em dezembro.

Choro agora como não tem mais absolutamente nada, nem rumo. Se eu não te conhecesse poderia crer que vou sentir sua falta e voltar correndo, mas já vai ser tarde, né amor?!

Esse é mais um dos meus abandonos desordenados, mais uma história de quem não tem aptidão pra ser alguém e que vai e precisa ficar só.

Te amo, de verdade.


segunda-feira, 9 de março de 2015

Meu abandono desordenado

ausência 

"Eu deixarei que morra em mim
o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar
senão a mágoa de me veres eternamente exausto
No entanto a tua presença
é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto
existe o teu gesto e em minha voz a tua voz
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim
como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar
uma gota de orvalho
nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne
como nódoa do passado
Eu deixarei...
tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos
e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu,
porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite
e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa
suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só
como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém
porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar,
do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente,
a tua voz ausente,
a tua voz serenizada."


quarta-feira, 4 de março de 2015

Pimenta

Eu já era casada, fazia algum tempo que morava ali com as minhas três filhas pequenas e meu marido um tanto quanto ausente.
Dividia o muro com uma vizinha rabugenta, baixinha, do cabelo longo e preto, esguia, sempre de cara amarrada. Ela tinha uma rivalidade comigo que eu talvez nunca saiba explicar, ou quem sabe eu até consiga imaginar o porquê.

O marido dela era agressivo, pouco sabia sobre ele além dos gritos e barulhos de tapas que atravessavam as paredes e invadiam minha sala. Nunca entendi o motivo daquilo, não que ela fosse uma santa, mas o que de tão errado ela andava fazendo? E talvez tenha sido por isso que ela semeou maldade entre nossos quintais, porque ela era infeliz.

Se empenhava em pegar canecas de prata que tinha em sua casa, luxo que eu não tinha e ela sabia bem, e esfregava até brilhar. Gritava do outro lado do muro até eu sair pela porta e aparecer no meu quintal e então ela pedia solene um pouco d'água, como se ela não tivesse a mesma que a minha em sua torneira. Eu pegava a caneca, a enchia e devolvia, até sorria tentando parecer simpática... Ela me olhava e jogava toda a água no chão, virava as costas e entrava.

Seu José era o proprietário da casa em que eu morava, da casa do lado também. Ele havia combinado com o marido dela que poderiam fazer uma manilha que passasse do quintal deles e atravessasse o meu devido a chuva não ter escoamento para rua. A partir do dia em que ela teve a ideia de jogar todo tipo de lixo por aquele buraco, minha vida calma começou a ter sérias pitadas de ódio.

No meu quintal havia cascas de bananas, laranjas, sacos, papéis e tudo que ela encontrasse e desejasse descartar ou até quem sabe ela nem quisesse realmente se desfazer daquilo, mas o lixo havia acabado e ela não podia desistir da tarefa de me incomodar.

Decidiram fazer uma reforma, um poço e terra no quintal novo. As roupas brancas do varal amanheciam com a mesma terra que havia no chão da casa reformada com canecas de prata e comida pra ser descartada no meu quintal.

A essa altura eu odiara ela como nunca achei ser possível, mas me mantinha calada. Eu sabia que arranjaria problemas com o marido dela e o meu nunca estava disposto a realmente me defender, tinha problemas maiores do que a vizinha mal-humorada. Minhas filhas tinham pouca roupa pra vestir, as que tinham estavam sujas, meu marido não aparecia havia muitos dias, a comida era cada vez mais escassa, eu me sentia sozinha e sobrecarregada.

Tive a ideia em certa noite de comprar uma tigela de barro e encher de farinha, jogar do outro lado e esperar ela achar que eu havia jogado uma macumba horrível nela. Mas não o fiz, afinal, quem disse que eu tinha dinheiro pra gastar com tigela e farinha pra jogar fora?

O tempo fechou anunciando a tempestade, em fevereiro sempre chovia muito. Uma lata guardada, os pingos começaram. Fui até o buraco da manilha e entuchei a lata lá... A chuva ficou intensa, a água começou a subir e eu me desesperei ao perceber que o poço estava sendo invadido pela terra. Eu estava alagando a casa deles e ainda acabando com água. Desisti da vingança, a lata de leite ninho muito bem enfiada ali não saia, a chuva me lavando e eu tentando empurra-la, puxa-la, tira-la de lá a qualquer custo. Sai correndo pela minha casa, toda molhada, atravessei e sai pelo outro portão, do outro lado da rua era a casa da minha mãe.

Apareci toda molhada e chorando "Eu alaguei tudo lá, mãe! Me ajuda.". Depois de muito questionar, levantou e saiu correndo, conseguimos tirar a lata com um faca.
Ela nunca desconfiou que eu destruí a limpeza da água do poço e transformei o quintal dela naquele lamaçal muito pior do que o de costume.

Nem me vingar direito eu consegui.