terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Furacão

É dificil pra mim escrever coisas boas em momentos ruins, eu já tinha um texto pronto, mas apaguei... se eu souber descrever, esse ficará muito melhor, apesar da dificuldade é nas piores horas que eu acabo vendo a luz brilhar mais forte.

Eu escrevi um post sobre 2014 cheio de detalhes sobre todas as minhas quedas na rua, sobre todas as vezes que me derrubaram do andar mais alto do prédio e sobre todas as decisões sensatas que eu acredito ter tomado, e ele ficou nos rascunhos... Mas a última parte merece ser transcrita pra cá.

Foi um ano dificil, apesar de ter sido de festa... Quem me conhece sabe que acabo por transformar funerais em micaretas com uma grande frequencia. Todos chegavam e eu permanecia inabalavel, minhas amigas que o digam, escutei tanto "porque você tá tão sem coração?".
Todo mundo provocava uma marolinha, até ele chegar e incitar o furacão.

Eu, apaixonada que sou pelo livro do "Quem é você, Alasca?" ( leiam!), sempre utilizei da frase " Se as pessoas fossem chuva, eu seria a garoa e ela, um furacão". Na maioria das vezes eu me sentia o furacão, as pessoas eram vazias demais, superficiais e simples e eu, nem mesmo consigo decidir se sou indecisa e decidida, como elas podiam ser tão simples e chatas? Terem personalidade e jeitos tão previsíveis e agirem todas da mesma forma? Porque elas não sentiam as coisas como deveriam? E era porque elas não sentiam, que eu não sentia nada por ninguém.

Eu não sei exatamente como aconteceu, mas acho que dá pra considerar como uma história de filme onde você simplesmente olha pra alguém e se apaixona. Nem que tenha sido assim tão simples, onde eu olhei pra ele e os sinos soaram, mas foi quase que isso depois de uns cinco dias.

Não precisou de muito pra eu saber que ele sentia como deveria sentir, ao meu ver. Ele não era raso e eu o disse isso tantas vezes sem ter uma explicação clara do significava que muito provavelmente, até agora, ele não deve ter entendido muito bem o quanto isso é bacana.

O momento ao certo, nunca vou saber dizer, mas cheguei a conclusão em algum dia desses que eu não era mais o furacão, nem ele. Nós eramos, juntos. Juntos nós eramos o furacão.

Cansada da garoa, quando eu vi que além de não ter garoa nessa história, ainda eramos como um só, a queda foi fatal. Como poderia deixar pra lá um evento inédito desse?

Meus pais nunca foram lá muito compreensivos, eu nunca fui um exemplo de filha, nem de namorada, nem de amiga, nem de ser humano... Eu sou assim, impulsiva. Eu sabia que não daria certo, mas eu tava errada.

No dia 30, ele veio a São Paulo pela terceira vez, eu esperei por um tempo até ele chegar. Meu batom ficou todo no rosto dele.

Eu nunca fui boa em criar expectativas, eu sempre imagino as coisas de um tamanho imensurável, eu tenho muitas vontades, mas nem todas elas dependem de mim, aprendi a ser mais cautelosa ao imaginar as coisas com as outras pessoas. No primeiro fim de semana que passamos juntos, eu não esperava muito, pra ser sincera, tava preparada pra possíveis coisas ruins.. afinal, a gente brigava com uma grande frequência e eu não sou do tipo que abaixa a cabeça. Achei que ele era rude e grosso 98% do tempo, mas ele era tão doce quando me olhava.

Ele veio me buscar e eu não esperava muito dos dias que passaria lá, nem sequer criei expectativas sobre como o outro estado deveria ser bonito depois de tanto me dizerem sobre balas perdidas. Eu tava até com medo de como meus pais reagiriam na frente dele.

Eu dormi todo o caminho e ele me ofereceu um colo confortável em todas as horas da viagem, continuava sem saber muito o que imaginar com relação a tudo.

Que ele me deixava a vontade eu soube desde o instante que dei a mão pra ele pela primeira vez no metrô. Não tinha luz, lá é um calor consideravelmente maior que aqui e tudo ainda tava meio estranho pra quem não tinha saído da rota do metrô de São Paulo nos últimos 18 anos, mas sentada no sofá da sala, suando com aqueles prováveis 40 graus, eu me senti mais a vontade do que deitada na minha cama e mais que isso, senti aquelas felicidades que dão uma vontade de pular porque são imensas demais pra gente segurar.

Tenho o costume de ficar falando sem parar e\ou cantando música inexistentes com qualquer frase que falam todas as vezes que eu sinto algum tipo de felicidade plena mesmo que seja por poucos instantes, mas naquela hora eu não fiz nada disso, eu só escutei você dizendo que podiam ver minha bunda da janela se eu não sentasse direito no sofá.

A conclusão geral do passeio foi que no Rio os morros não são nada feios, inclusive a noite onde tem muitas luzes pequeninhas e distantes e provavelmente me dão a sensação gratificante porque não estou sozinha no mundo, mesmo que não conheça ninguém dali, mesmo que eu nem sequer tenha estado no morro, gosto de saber que existem milhares de pessoas ( e isso fica claro quando lá tem muito mais luzes visíveis do que da janela do meu quarto), mas nenhum amor como o meu. Mas que disparate falar dos morros ao invés de falar sobre a arvore na lagoa e sobre como tem umas montanhas em que constroem uns prédios no meio de forma maluca, e as nuvens lá são baixas o suficiente pra se misturarem nas pedras gigantes. Lá as pessoas usam tamanco, parece uma informação desnecessária pra vocês, mas pra mim até me alivia, não tem como alguém usar tamanco e ser boa da cabeça no ano de 2015. Em São Paulo, eu nem tenho um chinelo, eu ando de meia em casa e lá acho que nem vende meia.

Mas é só a conclusão sobre o estado.

A conclusão sobre os dias não dá pra ser redigida sem a explicação de como foram cada um dos
segundos que se passaram.

Tentei te fazer ver os filmes que eu considero os melhores, mas você só assistiu um e ainda blasfemou tamanha obra dizendo que não gostou, mas que absurdo! Só te perdoo porque eu acabei dormindo na metade depois de pedir "10 minutos só, amor... tô com muito sono".
Tentei te ensinar a fazer brigadeiro, e até que os dois que fizemos deu certo... mas você fez queimar um pedaço no segundo e eu acabei esquecendo de fazer de novo pra você no penúltimo dia. Cozinheira de mão cheia, sei fazer só brigadeiro, mas pelo menos isso eu fiz.
Tentei aprender a dar dois beijos, mas deixei tanta gente no vácuo que quando a gente desceu pra encontrar seu pai eu só sabia repetir na minha cabeça "dois beijos, dois beijos, dois beijos" e eu consegui, pelo menos ele não beijou o ar.
A gente discutiu e eu tentei sair do quarto, voltei pra sentar na cama rindo porque nem sequer conseguia abrir a porta sozinha.
Tentei parecer quieta e normal quando fomos pro seu primo, mas acabei abraçando sua prima por esquecer que no rio são 2 beijos, te irritando com a história do Lucas Lucco, vendo foto sua de criança, adorando a Thalita, indignada com o quanto vocês são animados e assustada com o quanto você riu quando estávamos indo embora. Depois disso, disseram que pareço a branca de neve, e devo parecer mesmo, quase me auto convenci de que preciso tomar um sol nesses dias que passei vendo as pessoas bronzeadas na rua.
Cantei Lucas Lucco enquanto a gente via Legendários e você olhava a bunda da Lola ( não tente negar, eu te perdoo), e ainda tinha tempo pra ficar puto com o fato de tocar uma música só dele.
Escutei da sua tia "muito bonita mesmo a sua namorada" e até ganhei presente.
Achei que a gente ia ficar preso no metro, fiz careta pra você pelo reflexo e ainda quase morri de rir com as nossa caretas.
Vi o Athos subindo devagar na porta pra eu fazer carinho nele e não me assustar e ficando histérico quando você aparecia. Ele também tentou interferir nas nossa briga na cozinha te protegendo e latiu porque tava com ciumes de quando a gente se beijava na frente dele.

A verdade é que quando voltei pra casa eu já não via mais sentido em nada.

Na última noite, a gente brigou e eu chorei. Acabei dormindo enquanto pensava em quanto você levaria pra chegar mais perto de mim e me abraçar... a cada dez minutos, mesmo que inconscientemente, mesmo que dormindo, a gente se abraçava, mesmo brigados.

No domingo aquele maldito sino da igreja batia a cada hora que passava, parecia que me avisava que as horas do seu lado estavam acabando, e a cada hora que passava eu te abraçava com mais desespero.

Quando o sino bateu e avisou que já eram três horas, a gente parou o que tava fazendo e se olhou e as coisas mudaram de rumo de uma forma que eu senti que seria impossível me esquecer dos detalhes daquilo pra sempre. Sussurrei que te amava e que seria sua pra sempre por tantas vezes que perdi a conta.

Depois de tomar banho eu sabia que era a hora de ir embora e arrumar a mochila, tirar as roupas que tinha guardado no seu guarda-roupa e colocar todas de volta no lugar vieram (missão dificil pra quem odeia arrumar mochila e ser organizada, mas principalmente pra quem quer tudo menos voltar pra casa). Fiquei sentada do seu lado, ainda de toalha, olhando nosso reflexo distorcido na porta do armário enquanto chorava por uns bons 20 minutos.

Voltando a história pra um tempo anterior, na primeira hora do ano, a gente cantou "sorte é ter você" porque passou na televisão.

Talvez você nunca entenda, talvez nunca faça sentido tudo o que eu já disse e digo, mas ninguém nunca vai saber o quanto é horrível não respirar o mesmo ar que você.

O meu amor é assim, ele compartilha, ele divide, ele soma.

Eu não tenho muito pra te dar além de gargalhadas altas e um abraço quando você chorar. Eu não posso te dar mais que promessas de conquistar o mundo no momento e na maioria das vezes eu não vou querer e aceitar que você apague o brilho de algo meu, por mais infantil e babaca que pareça pra você.

Mas o que eu pude fazer eu vou, mesmo que não seja o bastante, eu dou, mesmo que não seja o suficiente, eu faço mais uma vez.

Você sabe que as mudanças não estão no "você tem razão", estão nos planos que fiz pra vida inteira e conversei com você sobre.

Nesse fim de ano eu não fiquei em casa, eu viajei... Fui pro Rio de Janeiro encontrar o cara da minha vida, mas as vezes o universo tem dessas de me deixar sem chão quando ele diz que nada é o bastante.


ps: eu esqueci minha escova de proposito, pensei que talvez assim você ia lembrar de mim todos os dias quando fosse escovar os dentes... por isso te falei no onibus, pra você não confundir porque a minha era igual a outra que você havia guardado na gaveta.





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